Boletim nº 56.
Publico aqui, a íntegra do artigo do irmão Kurt Prober, somente para afastar alguns "pilantras" que utilizaram esse artigo em um Blog, e além de não citarem a fonte, se apropriaram indevidamente do texto assinando-o.
É assim que anda a nossa Maçonaria no Brasil .
Depois da Guerra Civil dos Estados Unidos da América do
Norte, houve um êxodo de cidadãos estadunidenses, que tinham servido no Exército
Confederado, vítimas dos longos anos de guerra, da onda terrível de assaltos
dos negros libertados, procurando vingança, e que encontraram as suas terras
devastadas durante as lutas. Foram várias dezenas de milhares de estadunidenses
que imigraram do seu país, e cerca de 10.000(dez mil), vieram para o Brasil, e
no meio deles muitos aventureiros e fugitivos da Justiça, e até estrangeiros
europeus, que aproveitavam as facilidades de transporte dados por “verdadeiros”
consórcios imigratórios, muitos de origem duvidosa, formados por aproveitadores
do infortúnio humano.
Estas imigrações começaram com maior intensidade para o
Brasil depois de 1865, radicando-se a primeira leva principalmente em Iguape
(em 1866), a maioria do Estado do Texas.
Um outro grupo, composto de famílias do Estado do Alabama
comprou e reformou um veleiro velho “WREN”, que batizaram com o nome de
“TARTAR”, e nele embarcaram para o Brasil em 17 de abril de 1868, levando a
viagem cerca de dois meses, e mandando vir depois parentes e amigos que lá
ficaram.
Ao chegar ao Rio de Janeiro, os imigrantes orientados pelo
Irmão Cel. Norris, foram recebidos pelos Irmãos George e Charles Nathan (dois
ingleses casados com as irmãs Goodman, do Estado do Alabama). Estes ingleses,
ambos Maçons, iniciados no Rio de Janeiro, na St. John’s Lodge nº 703, em 1846
e 1847, respectivamente, aconselharam o Cel Norris e os de seu grupo a se
radicaram nas imediações de Campinas-SP, conselho que foi aceito, e assim todos
viajaram para a região de Santa Bárbara, onde o Cel. Norris comprou uma grande
fazenda “Machadinho”, da qual foi depois cedendo partes aos outros imigrantes.
Teve o Brasil a felicidade de abrigar, neste caso, um grupo
homogêneo, de boa índole e cultura, e com a vontade férrea de aqui progredir e
formar um novo lar. Tinham vendido o que possuíam nos Estados Unidos, e muitos
trazendo os implementos necessários ao cultivo da terra. Não se tratava dos
imigrantes normais, que precisam e exigem o auxílio da nação que os acolheu,
chucros e sem cultura. Tratava-se, isto sim, de cidadãos que escolheram e compraram
as suas terras nas imediações de Santa Bárbara, onde o acre era vendido,
naquela época, numa base de US$ 2,00. Eram cidadãos habituados ao cultivo do
solo, que vinham acompanhados de suas famílias, em media com 4 (quatro) a 5
(cinco) filhos, mas havendo muitos com até 12 (doze) dependentes.
O líder destes imigrantes, sem sê-lo oficialmente, era o Cel.
William Hutchinson Norris, mais conhecido como o “Cel. Norris”, homem maduro e
experiente, nascido em 17 de setembro de 1800, então com 67 anos, um hábil
administrador, conselheiro e político, que trazia ao Brasil também os seus
11(onze) filhos, entre os quais destacava-se o Dr. Robert Norris, que lutara na
Guerra Civil dos Estados Unidos da América do Norte, durante quatro anos, fora
ferido várias vezes e no fim tinha sido aprisionado no Fort Delaware. Tinha ele
então 28 anos de idade.
Tanto o Cel. Norris (pai), como o seu filho Dr. Robert C.
Norris eram maçons.
WILLIAM H. NORRIS (pai) – Foi iniciado em 08 de dezembro de
1838, passado em 12 de janeiro de 1839 e elevado em data de 09 de fevereiro de
1839 na “Dale Lodge nº 66”, de Liberty Hill – jurisdição da Grande Loja do
Estado do Alabama, da qual chegou a ser Venerável Mestre de 1845/47. Em 1849
filiou-se na “Fulton Lodge, de Dallas em que ficou até 1857/58. DE 1859 até
1865 foi Venerável Mestre da Mount Pleasant Lodge, da qual pediu desligamento
em 13 de outubro de 1866 para vir ao Brasil.
Em 1860 ele já tinha sido Deputado do Grão Mestre e no
exercício de 1861/62, foi Grão Mestre da Grande Loja do Estado do Alabama.
Faleceu em 13 de julho de 1893.
ROBERT CÍCERO NORRIS (seu 4º filho) – Era médico, mas
concluiu o seu curso de medicina só em 1889/90, quando passou um ano em Móbile
(Estado do Alabama), na Universidade de Alabama. Foi iniciado na Fulton Lodge,
de Dallas, em 1858, a que também pertencia o seu pai. Era casado com Martha T.
Steagall (Pattie), capitão e mais tarde naturalizou-se brasileiro, chegando a
ser até delegado da polícia na Villa.
Faleceu em 1913.
Quando todos já estavam instalados, mais ou menos arrumados e
aclimatados no Brasil, o Cel Norris resolveu reunir os Maçons que haviam entre
os americanos já radicados em Santa Bárbara – e não eram poucos – fundando uma
Loja Maçônica, a qual deram o nome de Washington Lodge, e como todos os
fundadores tinham lutado pelo ideal de liberdade, é fácil compreender, que esta
fundação foi recebida de braços abertos pelo Grande Oriente Unido do Brasil,
quando em data de 12 de novembro de 1874 concedeu a Carta Constitutiva
Provisória, para que aquela Loja começasse a trabalhar, e já em 19 de novembro
do mesmo ano lhes forneceu a Carta Constitutiva definitiva para trabalharem nos
graus simbólicos do autêntico Rito de York. Já em 07 de agosto de 1877 deu-lhes
então autorização para que adotassem integralmente os graus simbólicos do Rito
de York em língua inglesa. Trabalhavam às quinta-feiras.
Pouco se sabe das atividades dessa legendária Oficina
Franco-Maçônica, pois os seus componentes formavam um grupo muito fechado, que
pouco ou nenhum contato mantinha com a Maçonaria Nacional, e se não fosse a
meticulosidade de um Irmão inglês (historiador inveterado), o Irmão James
Martin Harvey, praticamente nada saberíamos.
FOTO
Em pé, da esquerda para a direita:
William
Terrel; William Robert Daniel; Bony Green; Henry Scurlock; Henry Clay Norris;
Marsene Smith e Robert Cicero Norris.
Sentados:
Junius N.
Newman; Cel. William C. H. Norris; Robert P. Thomas; e John Domm.
Joseph Long
Minchin; Edward M. Minchin; Henry Farrar Steagall; Edwin G. Britt; P. P.
Fenley; Joseph H. Moore; e George.
Parece que o Irmão Cel. William C. H. Norris só foi Venerável
Mestre na fundação, pois tendo ele viajado para os Estados Unidos da América do
Norte em 1876, ficando lá durante um ano para matar saudades, já em 1876 – então Loja
nº 169 do Grande Oriente Unido do Brasil – a oficina empossou a seguinte
administração:
1876: - Venerável Mestre – Robert Cícero Norris; 1º Vigilante
George Dekalb Coulter; 2º Vigilante R. C. Crisp; Capelão William Mc. Fadden;
Secretário J. Smith; Tesoureiro J. A. Coole.
Já no ano de 1879 a
Washington Lodge teve a seguinte administração: Venerável Mestre – Robert
Cícero Norris; 1º Vigilante George Dekalb Coulter; 2º Vigilante John Domm; Tesoureiro
Alfred Iverson Smith; Secretário Benjamin H. Norris; 1º Diácono Henry Clay
Norris; 2º Diácono Wilber Fisk Knight; Capelão Junius N. Newman; Cobridor – A.
P. Finley.
Consta-se ainda que entre 1879/80
temporariamente os Irmãos William Terrell e Joseph Whitaker ocuparam “Ad Hoc”
os cargos de Venerável Mestre e Secretário, respectivamente.
No ano de 1880 foi
empossada a seguinte administração: Venerável Mestre – Robert
Cícero Norris; 1º Vigilante John Domm; 2º Vigilante E. B. Smith[; Tesoureiro
Alfred Iverson Smith; Secretário Benjamin H. Norris; 1º Diácono John Edward
Steagall; Capelão Junius N. Newman.
Em 18 de janeiro de 1883,
o Grande Oriente Unido foi incorporado pelo Grande Oriente do Brasil, ficando
então a oficina sob a jurisdição deste, que em 1884
lhe aprovou a eleição, mas não publicou o quadro, pois de 1885 até 1888 deixou de publicar o seu Boletim
Oficial.
Em 13 de julho de 1893, o Cel
Wiliam C. H. Norris, vítima de pneumonia, falece.
O corpo do Cel. William C. H. Norris é sepultado no
“cemitério dos sulistas” de Santa Bárbara do Oeste. Sua idolatrada esposa Mary
falece poucos meses depois. Os filhos do Cel Norris já se tinham dispersados,
de modo que logo depois foi o resto da antiga fazenda vendido a Abrahan Abe,
que nunca tinha conseguido terras próprias.
Teve o Cel Norris vários negros escravos, que viviam a uns
3km de sua casa, soltos mas nunca tentaram fugir, e mesmo quando libertados em
1888 ficaram com a família, que se tinha tornado a sua. Não se sabe que destino
tomaram depois da venda da fazenda.
Não resta a menor dúvida, que depois da morte do
patriarca..., e da dispersão da família – o Dr. Robert Cícero Norris tinha sido
praticamente Venerável Mestre durante vinte anos – a Washington Lodge estava
condenada ao adormecimento, ainda mais quando em 1893 o Maçom Martim Francisco
Ribeiro de Andrade estava começando a sua “Campanha Separatista do Estado de
São Paulo da União”.
Nestas condições, a subscrição feita em nome da Loja, na
importância de R$: 970$000, numa coleta de numerário para a Construção de uma
nova igreja para a comunidade, contratado em 28 de setembro de 1903 com Luiz
Capobianchi por dois contos de réis (isso a mão de obra) pode até ser
considerado como liquidação do “saldo em caixa da Loja”, em mãos do ultimo
Tesoureiro, por certo ainda o Irmão John F. Whitehead, imigrante chegado a
Santa Bárbara depois de 1878.
As colunas da Loja,
confeccionadas pelo Irmão John Edward Steagall, durante mais de 50 anos ficaram
guardadas na casa de algum descendente dos ex-obreiros do quadro, mas quando se
fundou finalmente uma Loja em Santa Bárbara, em 11 de julho de 1948, a Loja
“Campos Sales II” – GOB, estes descendentes, ao se tornarem Maçons, as
entregaram a esta nova Loja, e elas (colunas) estão lá até hoje.
Mas, por qual motivo teria adormecido a Loja? É
fácil de explicar.
Cerca de 5.000 americanos sulistas vieram ao Brasil,
radicando-se na região de Santa Bárbara, mas no correr de vinte anos (uma
geração), muitos deles, já idosos, foram morrendo, e outros – embora poucos –
voltaram para os Estados Unidos. Os filhos dos imigrantes iam casando, e
comprando suas próprias terras e casas em outras regiões, foram se mudando para
cidades próximas como, por exemplo: Limeira, Capivari, Constituição (hoje
Piracicaba), Tatuí, Campinas, São Paulo, e mesmo para outros estados.
Nessas condições a Washington Lodge, trabalhando por um
ritual diferente, desconhecido dos Maçons brasileiros, e em língua inglesa, não
mais dispunha de material humano suficiente para a renovação de seu quadro. A
freqüência dos antigos membros, muitos residentes longe, ia diminuindo, e no
fim a Loja abateu colunas.
Muito embora esse artigo possua algumas informações obtidas pelo irmão Kurt Prober, em meu livro , irei abordar ponto-a-ponto tudo que obtive pesquisando nos Boletins do Grande Oriente Unido .
Silas Andrade